É essencial evitar uma guerra comercial”, diz diretor-geral da OMC
A Organização Mundial do Comércio (OMC), dirigida pelo diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, vive uma prova de fogo com a escalada das disputas comerciais entre os Estados Unidos, a China e a Europa. Em entrevista a EXAME, ele diz que o comércio internacional não é o culpado pela perda de empregos.
Apesar dos alertas, o governo Trump está disposto a adotar tarifas contra a China. Qual é a gravidade dessa situação?
Uma escalada de medidas restritivas e de retaliações mútuas seria muito grave. Ela pode causar sérios danos à economia mundial. Mas, além do impacto econômico, devemos nos preocupar com as motivações e as consequências sistêmicas. As raízes dessas tensões comerciais são as profundas transformações trazidas pelas novas tecnologias, responsáveis por cerca de 80% dos empregos perdidos. Medidas comerciais protecionistas não vão resolver o problema — ao contrário. A piora nas condições do emprego é debitada na conta do imigrante ou do produto importado, mas na verdade é estrutural. É mais fácil culpar o que vem de fora do que aceitar que os problemas são estruturais e que são necessários ajustes importantes e demorados nas políticas nacionais.
Ainda é possível evitar uma guerra comercial?
É essencial evitar uma guerra comercial. Precisamos reverter urgentemente esse processo de escalada nas tensões. Estamos trabalhando duro em Genebra para isso — ainda que muitas vezes fora do radar da opinião pública. O ideal é sempre que as partes cheguem a soluções mutuamente satisfatórias e saudáveis para o sistema como um todo. Mas um diálogo franco e objetivo em busca de soluções nem sequer começou propriamente e será demorado.